Teoria da catástrofe III
Agora nos sentamos e brincamos com um elefantinho
de brinquedo que percorre um fio esticado.
Agora somos usados e nos usamos uns aos outros, em turnos.
Nossos chapéus desemaranham-se e isso, por si só, é trágico.
Estar perdido, ter perdido. Verbos
como verdadeiras locomotivas puxando o trem
do pensamento adiante. O chapéu está caído...
e sai um coelho. Sai um homem
com um monóculo. Sai um Kaiser.
Ufa, é a história, aquele teto
composto de quadrados rebaixados, cada peça é uma linha da vida.
Um cordão de veludo estendido
toca um sino e todos vêm correndo
para assistir enquanto o ano fecha em baixa na contagem regressiva de uma boca aberta. Um laço de arame farpado
fecha-se em torno da circunferência de um globo de neve
agitado. Papel de jornal amarelo com seu texto aguado,
uma treliça de sombra atirada
na tela da parede da prisão.
De uma mera ideia surge o fio
que dá à totalidade seu nome . O que é uma teoria
senão um tentáculo tentando alcançar uma hóstia de razão.
A trágica lacuna inevitável. Seguramente, trágica.
Complicações da Manhã
Aqui temos o vazio dos finais,
o vago desmantelamento da quase-luminosidade.
Aqui temos quase diariamente o risco da repressão.
Aqui temos uma mão ao fundo numa parábola palpável do destino.
Em uma floresta, ele comeu arroz, comeu ovo.
Disse uma mentira. Disse duas. E agora está contando de novo
enquanto um cômodo se torna vertigem. Enquanto uma pintura seca
no incêndio da fornalha.
Começa uma chuva (somente) visível e continua seu pequenino começo.
A cauda do coração toca a parede. Chega um gigante,
levanta o telhado recém feito, olha para dentro com seus olhos de fábula: Boa sorte,
ele diz, boa sorte, com sua minúscula condição.
A de Alice
Alice não pode estar no poema, ela diz, porque
é só uma metáfora para infância
E um poema já é uma metáfora
então teríamos apenas uma metáfora
Dentro de uma metáfora . Podem ver?
Todos assentiram. Eles viam. Exceto a menina
Com a cabeça na toca do coelho. Desde esta perspectiva,
sua bunda parece o traseiro achatado
De um panda preto e branco. Em realidade ela tem um embaixo de seus braços.
Obviamente é de pelúcia e não está vivo.
Quem se atreveria a segurar um urso de verdade tão perto da própria orelha?
Ela se pergunta que mal lhe poderia acontecer
Se caísse através de toda essa escuridão
pela qual está olhando.
Criaturas estranhas cantariam canções com sílabas estranhas que terminam com um final sibilante?
Talvez os sons tenham a forma de um leve assobio
Como quando uma morsa solta o ar
através de dois dentes frontais trincados. Talvez possam tomar a forma de uma serpente. Mas se fosse uma serpente
ela necessitaria de uma árvore.
Ela poderia fazê-la crescer de uma semente? Poderia fazer um gato?
Fazê-lo sentar-se em um galho e desaparecer de novo
No momento em que você disser que esse ruído desagradável que
ele escuta é
o pensamento racional
Golpeando com um machado as portas do bosque.
R Equivale ao Caminho Real à Realidade
Duas bonecas se sentam em uma caixa,
Seus rostos sem expressão combinam.
Isto, dizem elas, é como se deve parecer
No mundo.
Em outro canto, Freud diz que sim.
Na escuridão primitiva do desejo sim significa
sim para sempre. Ela pousa o livro e pensa
na próxima provação:
Washington sobre Nelson
Atravessaria a ponte de Washington.
Homer Simpson formaria um par
com um homem cego arrastando uma lira.
Haveria aquele cartão que diz ISTO
É O QUE VOCÊ ESTÁ PROCURANDO.
A imagem no verso - um olho
E uma anotação na margem
em uma fonte diminuta dizendo: "Aqui está a luz".
Ao lado dela, uma lâmpada sem interruptor desenhada à mão,
O que você quer? Nada.
E a ação na forma de um coelho correndo
Pés batendo em um canteiro de repolhos.
Depois se escondendo no regador.
Seu metal fosco um sino abafado enquanto ele bate uma pata com garras
Contra o chão, pensando, Isto
É então o décimo prazo final por cumprir.
O que quer que eu faça agora estará feito.
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