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  • Foto do escritorSerena Franco

Rafael Espinosa (Lima 1962)

Atualizado: 13 de out. de 2022




Por ter parentes em todos os lugares, como qualquer semente transgênica melancólica,

não é garantido que formemos, via o que eles beijam e

abraçam,

um clube íntimo com o planeta. Nós teríamos

também que amar o que eles amam, a mascotes que não conhecemos

e mortos inimagináveis que agora pesam o mesmo que um bit de bruma.

O amor, então, tem a ver com regiões, assim como a dor é um assunto de incidência local?

Isso se resolve bem fácil, simplesmente não fazendo perguntas

ou sofrendo com intensidade, como para imitar a ferocidade

com a qual o dia lança sobre os trabalhadores espirituais

desejos inconfessáveis. Nesse sentido, não se

equivocam

os edifícios mais altos ao serem kamikazes de sua própria

noção de altura,

na qual se diluem para dar lugar a um pedido que tem no centro

um buraco do tamanho de uma clarabóia gigante. E alí

até poderíamos,

enquanto houver vida, perceber que um menino afastando-se é, por sua vez, uma falha geológica.

O sol, já caindo, que outro clone teria?

O que eu lhe imploro, com as orações pagãs

do tato, é seguir marchando, em S se é indispensável,

sem perguntar se me guia a luz do que ao final constitui

somente o alumínio de uma muleta.

Afinal, também a usamos para avançar

e cair provavelmente em uma piscina com forma de orelha

em que fomos felizes.

Ou para adentrar uma quadra,

que de repente é uma fachada,

depois um cemitério de costumes

que resulta ser minha casa.




John Cage: "Se você não gosta de um som, atenda-o".


Desculpe, eu não tenho nada para ouvir.

Um organismo sem peso descansou sobre meus cílios

e a pureza se voltou contra mim.

Agora eu conheço a inocência. É

um santo que faz mal. Diga-me

coisas bonitas, como que vimos cavalos nos pântanos

ou que não vivemos por nada.

Vou transformá-los em um áudio mudo

para a perpetuidade dos cervos.

E está ensolarado lá fora, marcando o início

da temporada de cio, na qual serão gratificados a angústia e o instante.

Parece dizer escolha,

desde que o que você escolher seja apropriado

à felicidade. Pratiquei certa vez

este procedimento: você chega onde está o musgo

no cais, confiante em não escorregar,

e beija uma estrela do mar. Eu só tive

que passear por um charco. Foi

tão simples ser imprudente,

receber sua justa parte de perfeição.

Não posso acreditar que o fiz e fui bípede.

Que rede me engoliu

que não posso desdobrá-la

quando existem curvas, escapatórias

e finalmente, goste ou não, alargamentos.

A três quarteirões de distância, como eu entendo, a baía se abre sem reduzir-se nem em superfície nem em profundidade e mostra plantas que resistem à salinidade.

Porque eu só consigo envolver, e concluído meu trabalho, contemplar ciprestes e oliveiras

dentro de uma urna funerária.

E eu estou satisfeito,

alguém morre,

os trabalhadores trabalham.

Entrei em algo desconhecido, infinito mas não elástico

e meus olhos são produtores de neblina. Não sei o que vai acontecer com os enxertos. Eu me coloco sob a tutela

de meu filho cuja barba fere como pretensão do mundo.

Abro caminho entre alguns banhistas

que vieram distrair sua subjetividade.

A cada três braçadas

eu respiro pelo nariz, não pela boca.

Eu sou o nadador.

Me arrisco na parte dos redemoinhos,

onde a humanidade é inexperiente.

Estou aprendendo a morrer.

Mas mentira, ninguém aprende a despencar de uma ameixa.

Leio sobre pessoas que cuspiram ao expirar.

E amanhã um robô haverá de nascer






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