top of page
Buscar
Foto do escritorSerena Franco

Richard Siken (Nova York 1967)





Scheherazade


Conte-me sobre o sonho em que tiramos os corpos do lago

e os vestimos com roupas quentes outra vez.

Como era tarde, e ninguém podia dormir, os cavalos correndo

até esquecerem que são cavalos.

Não é como uma árvore onde as raízes têm que terminar em algum lugar,

é mais como uma música num rádio policial,

como enrolamos o tapete e assim pudemos dançar, e os dias

eram vermelho brilhante, e todas as vezes que nos beijávamos havia outra maçã

para fatiar em pedaços.

Olhe para a luz através da vidraça. Isso significa que é meio-dia, isso significa

que estamos inconsoláveis.

Diga-me como tudo isso, e o amor também, vai arruinar-nos.

Estes, nossos corpos, possuídos pela luz.

Diga-me que nunca nos acostumaremos.




Improvisação à beira-mar


Eu arranco minhas mãos e as dou para você mas você não

as quer, então eu as pego de volta

e as coloco ao contrário, nos pulsos errados. O quintal está escuro,

os tomates estão perto da parede esbranquiçada,

o livro em cima da mesa é sobre a Espanha,

as janelas estão seladas.

Esta noite você está pensando em cidades repletas de damas-da-noite

e eu olho para você como se olhando por uma janela,

contando pássaros.

Você queria a felicidade, não posso culpá-lo por isso, e talvez uma boca soe idiota quando tagarela sobre alegria

mas me diga

que você ama isso, me diga que não é miserável.

Você faz as contas, você espera o problema.

A cidade litorânea. A cerca elétrica.

Desenhe um círculo com um pedaço de giz. Imagine-se de pé em um constante cone

de luz. Imagine a rendição. Imagine ser inútil.

Uma pedra no caminho significa que o chá não está pronto,

uma pedra na mão significa que alguém está com raiva, a pedra dentro de você ainda não atingiu o fundo.




Mundo Visível


A luz do sol derramando-se sobre sua pele, sua sombra

plana na parede.

O amanhecer estava quebrando os ossos do seu coração como galhos.

Você não esperava isso,

o quarto ficou branco, a luz astronômica

batendo em você num fluxo de punhos.

Você levantou a mão contra o rosto como se

quisesse escondê-lo, os dedos rosados ​​ficaram dourados enquanto a luz

fluía direto para o osso,

como se você fosse o pequeno quarto fechado em vidro

com cada partícula de poeira iluminada.

A luz não é o mistério,

o mistério é que exista algo que impeça que a luz

atravesse.



1 visualização0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Mary Jo Bang (Missouri 1946)

Teoria da catástrofe III Agora nos sentamos e brincamos com um elefantinho de brinquedo que percorre um fio esticado. Agora somos usados...

Rafael Espinosa (Lima 1962)

Por ter parentes em todos os lugares, como qualquer semente transgênica melancólica, não é garantido que formemos, via o que eles beijam...

Marvin Bell (Nova York 1937)

Sobre o início do homem morto Quando o homem morto vomita, ele pensa que vê sua vida interior. Ao ver seu vômito, ele pensa que vê sua...

Comments


bottom of page